20 de abril de 2007



Sou um grande admirador dos livros de Mia Couto, adoro sentir o doce sabor das suas palavras, imaginar o cheiro das terras do " seu"Moçambique, e sonhar com os seus contos, sempre curtos, sempre intensos mas sempre belos.

Não sei porquê, é um fetiche inexplicável meu, mas quando chega o Verão dá-me sempre vontade de ler livros de contos e a literatura africana é sempre a minha primeira opção, acho-a refrescante e leio-a sempre avidamente e apaixonadamente .

Se gosto de ler os retratos das viagens de José Eduardo Agualusa, de ouvir contar as tradições de Angola de Onfjaki, ou de me divertir com os romances puros e duros de Pepetela, é com Mia Couto que encontro a paz, a reflexão da vida e do seu redor e a serenidade que preciso de encontrar em tempos de férias e de descanso do rebuliço dos dias.

Mia Couto, ou talvez Sr. biólogo Emílio Couto, ganhou o prémio União Latina de Literaturas Românicas o que vem chamar à atenção do público em geral, relativamente à sua obra, obra essa que merece ser seguida por parte de quem gosta de ler.

Se o que aprecio mais é a magia dos seus contos e dos seus romances, na poesia Mia Couto escreve palavras sentidas e muito, mas muito bonitas.


Poema da despedida


Não saberei nunca
dizer adeus

que afinal,
os mortos sabem morrer


Resta ainda tudo,
nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
Alcança o mundo, eu sei
Ainda assim, escrevo

Fundo do mar


Quero ver
o fundo do mar
esse lugar
de onde se desprendem as ondas
e se arrancam
os olhos aos corais
e onde a morte beija
o lívido rosto dos afogados


Quero ver
esse lugar
onde se não vê
para que
sem disfarce
a minha luz se revele
e nesse mundo
descubra a que mundo pertenço

( poemas retirados do livro " Raiz de orvalho e outros poemas ")


9 comentários:

C. disse...

Partilho desse gosto, com Mia Couto e Agualusa no topo. Também tenho uma preferência especial pelos contos... e pelas palavras inventadas de Mia Couto.

Anónimo disse...

O poema "Fundo do mar" é muito bom.
Abraço

PavlovDoorman disse...

Memphis e entre nós que ninguém nos ouve Mia é um Azul como nós...
Só beneficia.Eheh

Menphis disse...

Pavlovdoorman, por acaso é uma cor que me faz lembrar Mia Couto : o azul.

e claro que não há nada como o azul, mas isso são outrs conversas...heheheh.

catarina disse...

;)
Mia Couto é um dos autores que figura na minha estante numa percentagem que faz alguns usarem a palavra "aficcionada":)
mas é lindo. doce, lindo, flutuante, e transporta-me para um mundo... azul:) sim, mesmo azul:) seja ele em contos, romances, crónicas ou poesia. tem a minha completa admiração.
e, como se não bastasse para acrescentar ao rol de detalhes perfeitos, é biológo:)
há gente assim...:)

Menphis disse...

Catarina : Acho que descreveste perfeitamente a escrita de Mia Couto.
Leva-nos para um mundo maravilhoso e dá-nos vontade de conhecer os lugares que ele nos mostra.

Menphis disse...

e sim, já ouvi dizer que os biólogos e biólogas são perfeitos nalguma coisa, não é ?

catarina disse...

hmm... nem todos...:) eu sou a viva excepção de que os biólogos podem ser um monte indescriminado de defeitos variados...;)
mas, pelo menos, esforçamo-nos para ser boa gente... e orgulhamo-nos daqueles entre nós que vão mais longe, seja em que campo for;)

Menphis disse...

Não acredito que ser um " monte indiscriminado de defeitos variados " não seja uma boa pessoa.

aliás, ser má pessoa é mesmo não ter defeitos, deve ser chato como o diabo.