30 de novembro de 2005

O poeta do desassossego
Hoje, faz 70 anos que Fernando Pessoa deixou o mundo dos vivos escancarando as portas de uma eternidade justa.
As suas palavras ecoaram num céu distante para os normais, apenas alcançável para os génios.
A partir de hoje os seus poemas, suas frases metáfisicas, seus aforismos, vão estar mais perto das pessoas porque a sua obra vai estar mais acessível ao público, já que com 70 anos de falecimento os direitos de autor acabam e a sua obra fica no domínio público, o que, consequentemente, vamos ver preços mais baratos e edições completas para coleccionar das suas obras.
As palavras de Pessoa para mim são especiais, tenho na minha cabeçeira o " Livro do Desassossego " que vou lendo á medida que o tempo passe sem presas, algumas das suas palavras e frases já divulguei aqui no blog mas aqui fica dois poemas, dos muitos, que me dizem muito.

" Sossega, coração!
Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo!
Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme "
"Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?
Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.
Para quê?...
Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?... "

27 de novembro de 2005



e tocas-te...tocaste-me com as melodias que brotava, da tua alma . As tuas mãos suaves, cálidas, deslizavam sobre cordas de anjo e o meu corpo esvoaçou o paraíso durante um instante eterno...

15 de novembro de 2005


Tudo quanto penso





Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi.

[...]
( Fernando Pessoa )

12 de novembro de 2005




Uma imagem, ás vezes, vale por mil palavras

6 de novembro de 2005



Keep on rockin' in the free world


O dia 2 de Julho de 2005 vai ficar para sempre na história, não só musical, mas também na história de uma humanidade que quando sempre precisou viu a música a dar-lhe uma ajuda necessária para tentar minimizar os estragos que o Homem fez na sua existência.
Nesse dia, senti-me fazendo parte de um mundo solidário, unido a uma causa justa, e também tive orgulho de pertencer a uma geração que, afinal, gosta de sobressair nos momentos em que a História aparece .
Vi o Live 8 com uma atenção, uma emoção e também como um brilhozinho nos olhos inebriantes com as imagens, e os sons, que me transmitiam quer na televisão, numa primeira parte, como depois na rádio, numa 2ª parte do dia, como na Net, na parte mais final da noite.
Fiquei arrependido por não ter estado colado na Net e na rádio durante todo o dia porque foi ali que todas as minhas emoções se extravasaram, comentei no blog da Antena 3 e ouvia a emissão especial da mesma rádio, espreitando pela Net vendo os concertos em directo e foi aí que me senti parte de um mundo global, uno e solidário, os comentários, as alegrias, as emoções transmitidas por auditório que ouvia/via os concertos e sabia que estava a fazer parte de um dia histórico.
O concerto dos Pink Floyd foi daqueles que só mesmo quem viu é que sabe o que se passou, as emoções não se podem ser descritas têm mesmo de ser vividas intensamente, como aquele que dizia no blog estar a chorar porque via que o mundo, afinal, lembrava-se que existia África, a “ sua “ África .
È no DVD, nos 4 DVD’s, que vão sair amanhã que irei recordar para sempre os concertos, as músicas, as palavras-chave, as imagens, os sorrisos, as lágrimas que nesse dia as câmaras conseguiram apanhar, mas o objectivo principal que esteve na realização deste dia, esse ainda continua por realizar, a fome, a miséria, as desigualdades sociais ainda existem, para quando vamos libertar disto tudo ?

Nota : Bob Geldof ganhou, merecidamente, na passada 5ª feira o prémio mais importante dos Prémios MTV e o seu discurso foi sublime, só é pena o, pouco, ênfase dado a esse discurso por uma boa parte da nossa imprensa.
Nós, jovens e menos jovens, precisamos de estar unidos a esta causa e transmitindo-a com uma paixão e força ás próximas gerações, para que não se esqueçam que a fome, a miséria e a doença está pertinho da nossa casa.

2 de novembro de 2005

Nova Orleans foi das cidades americanas mais fustigadas pelo Furacão Katrina, morreram pessoas, demasiadas pessoas, demasiados humanos, mulheres, crianças, homens desconhecidos que fizeram desta cidade uma das cidades mais bonitas, históricas e interessantes de um mundo que teimam em chamar de “ American Dream “.
Reza a história que Nova Orleans é das cidades americanas com maior história cultural, sobretudo musical, daquele país.
Uma história que se fez através de sons, de palavras e de, sobretudo, melodias que homens e mulheres geniais conseguiram elevar esta cidade para um patamar grandioso e glorioso para quem se interessa pele história da música.
O Jazz, Blues, Rock’n’ Roll, não seriam os mesmos se Nova Orleans não existisse.
Descobri numas das minhas incursões na Net este poema que veio publicado num livro que já “namorei “, o livro chama-se “ Poezz “ e é poesia mas falando de Jazz, certamente, um livro a descobrir e a comprar.
Esta é a minha homenagem a Nova Orleans, á sua história e população.


Não quero perder o navio em Nova Orleans


Não quero perder o navio em Nova Orleans.
Não quero perder o navio.
Quero subir este vasto e fundo Mississipi
que foi sonho da minha vida aventureira.
Quero subir o rio de margens baixas, verdes,
O rio lodoso que rasga um continente
até ao coração desta cidade em perdição perdida.
Quero subir o rio depois de ter visto nos bares escuros
as mulheres nuas de Nova Orleans.
Quero subir o rio na barca antiga,
igual à das estampas antigas.
Quero subir o rio que já não tem aventura
para guardar na memória este pedaço de aventura.
Já não há troncos de árvore à deriva no rio,
Mas eu quero agarrar-me ao tronco de árvore
que à deriva,
no rio,
arrasta para o mar
este sonho de fuga
e de abordagem
e de viagem
e de evasão
para mundos distantes,
para cidades exóticas,
para mares insondáveis,
para rios infindáveis,
Este sonho de fuga
que marcou,
indelével,
no mapa da vida,
O meu destino.
Nova Orleans, 30 de Abril, 52.
Joaquim Paço d´Arcos
“Poezz”Almedina 2004