26 de junho de 2008

" Fazes-me falta " de Inês Pedrosa

Será que merecemos viver com a culpa de não termos dito " aquelas palavras " naquele momento onde elas deveriam serem ditas, de não termos mostrado todos os nossos sentimentos às outras pessoas, de não termos tido coragem de ter feito aquele gesto que ficou perdido no ar, de não sabermos como amar na sua plenitude, porque, talvez, fica sempre algo esquecido ? Porquê fica sempre algo por dizer /fazer e só quando uma pessoa se separa é que tem essa noção ?

"Arrumei os amores, é a primeira regra da vida - saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. "

Duas vozes. Duas gerações. Um homem vivo. Uma mulher morta. Uma separação,abrupta e estúpida como só a morte pode dar. Mesmo, na altura, quando a vida tinha tanto para lhes dar aos dois. Duas vidas separadas e dois sentimentos comuns: a amizade e o amor.

" Não importa o que se ama. Importa a matéria desse amor. As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor. As palavras são só um princípio - nem sequer o príncipio. Porque no amor os princípios, os meios, os fins são apenas fragmentos de uma história que continua para lá dela, antes e depois do sangue breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O sujo, a luz, o áspero, o macio, a falha, a persistência. "


Um romance delicioso, que se lê com prazer, negro como negra é a vida quando nos falta alguém de que gostamos, e de quem sentimos falta, mas onde está escondido no meio das suas palavras intensas a luz perfeita para compreendermos melhor o que são as relações humanas.

" Trago-te no riso enterrado, nas lágrimas que me lançaste, escadas de incêndio para a sabedoria da felicidade, na pele escaldada pelo brilho da noite, depois do mar. Falámos demasiado para que eu recorde do que falámos, vivemos demasiadas vidas para que eu possa separar. Para que eu me possa separar de ti. "

5 comentários:

Maria del Sol disse...

Este livro também se tornou muito especial para mim depois de o ter lido numas férias de Verão, há três anos. Foi o que me apresentou à escrita emotiva e crua da Inês Pedrosa, que, por ser intensa, funciona tão bem em romances extensos como na sua versão mais sucinta, a coluna "Crónica Feminina" do Expresso.
Também tenho muita vontade de ler o romance mais recente, "A eternidade e o desejo", e espero fazê-lo assim que a vaga dos meus exames passar. :)

Célia disse...

Gostei das passagens que escolheste, especialmente esta parte: "Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha". É uma excelente questão, esta.
Ficou anotada a tua sugestão ;)

Menphis disse...

maria del sol - O livro mais recente da Inês Pedrosa também me parece uma boa sugestão para o Verão. Mas a lista já está tão grande...Já agora, continuação de boa sorte para os exames.

canocinha - Penso que irias gostar muito deste livro. Eu adorei-o, quando puderes, compra-o. Até tem na versão " booket" que é mais baratinho :)

Mojo Pin disse...

Gostei. Vai ser o seguinte. Sabes que o teu primeiro parágrafo diz tudo. Tudo que é essencial nas relações humanas. A assertividade, dizer o que sentimos e o que pensamos sem magoar os outros. É sermos transparentes e não termos medo de nos mostrar, de nos entregar de uma forma exagerada. A entrega tem que ser total. Sem isto, uma relação não existe. Trabalho a assertividade, noutros moldes, com as crianças. Se desde pequenos isto for trabalhado, no futuro serão, sem dúvida, pessoas melhores.*

Mojo Pin disse...

Desculpa o exagero de vírgulas;)e ainda por cima mal colocadas. A isso chama-se comentar à pressa, desculpa*