29 de maio de 2008

Ainda sobre o post anterior

Porque na sociedade portuguesa actual, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições e os homens supostos deterem e dispensarem o poder-saber não foram ainda quebrados por novas forças de expressão e liberdade.
Numa palavra, o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo. É o medo que impede a crítica. Vivemos numa sociedade sem espírito crítico – que só nasce quando os interesses da comunidade prevalecem sobre o dos grupos e das pessoas privadas. - José Gil in " Portugal Hoje, o Medo de Existir"

Tenho mesmo de comprar este livro. Urgente para eu compreender um país, e um povo, que se entretêm com coisas menores e não consegue agir com as coisas que mexem com a sua vida. O povo está tão manietado, tão controlado pelo " sistema", que não consegue agir e, pior do que isso, não quer agir, está tão inebriado com estas pequenas coisas que nem liga ao essencial. Encolhe-se os ombros e quem disser mal é olhado de lado para se chegar à conclusão que nada se pode fazer e "...é o país que temos." E o futebol, e neste caso especifico a selecção, é o retrato fiel do país que temos, recheado de parolices mas com a mania que são elites. Não se pode criticar nada, tem de se apoiar mesmo que não concorde com as opções ( então se eu critico coisas no meu clube, que escolhi pelo coração e que sinto muito mais, porquê não posso criticar um raio de um país onde eu nem escolhi para nascer ?), temos de levar com noticiários televisivos de 1 hora e meia com mais 40 minutos a falarem de coisas inócuas sobre a selecção, é a publicidade a coisas incríveis
com os símbolos nacionais ( só falta publicidade aos pensos higiénicos preferidos para conquistar o Cristiano Ronaldo), um país onde é cada vez está mais dificil de se viver, os preços a aumentarem vertiginosamente, e o povo fica entretido com isto tudo, não sabe separar as águas.
E eu sou um fanático de futebol, mas cansa-me ver tudo isto, parece que a vida é só futebol, cansa-me ver, até noticias do meu clube, a abrirem os telejornais, e depois ai de quem critique a selecção. Tinha prometido a mim mesmo não falar mais da selecção, que é uma coisa que, à medida do tempo, fui perdendo o gosto e perdi a minha identificação com ela. Assumo que já lá vai o tempo que vibrei muito com esta mesma selecção, deste mesmo selecionador apesar de tudo, mas neste Euro nem vontade de ver os jogos eu sinto, porque me cansei de toda esta " futebolização da sociedade portuguesa" e toda esta amnistia às criticas só porque temos de fazer parte do rebanho e não podemos ser a ovelha negra. Mas liberdade de expressão também é poder criticar o que está mal e se calhar até festejar os golos. Já diria António Lobo Antunes que " este país é um país de uma nota só. Uma singela e solitária nota musical: o dó".

Mas fica aqui outra reflexão de ser português, feita nos inícios do século passado.

" Tão regrada, regular e organizada é a vida social portuguesa que mais parece que somos um exército do que uma nação de gente com existências individuais. Nunca o português tem uma acção sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo. Está sempre à espera dos outros para tudo. E quando por milagre de desnacionalização temporária pratica a traição à Pátria de ter um gesto, um pensamento ou um sentimento independente, a sua audácia nunca é completa porque não tira os olhos dos outros, nem a sua atenção das suas criticas. "

Alguém sabe quem disse isto ? Dão-se alvissaras.


5 comentários:

Anónimo disse...

Por acaso, desconhecia. Nada que uma busca não resolvesse: Fernando Pessoa. Ainda há direito a alvíssaras? ;)

Abraço

Menphis disse...

Google is my friend, Google is your friend, Google is our friend :)

mas claro tens direito a alvíssaras :)

abraço

Loot disse...

Fernando Pessoa? Porque é que isso não me surpreende? Um excelente escritor e uma excelente frase, não a conhecia mas é impossível não lhe reconhecer crédito.

Abraço

pegueitrinquei disse...

A-M-E-I! Reflecte tudo o que tenho vindo a sentir ultimamente (e tu que vais ao meu blog, sabes disso). Apetece-me roubar-te as citações, as imagens, tudo, tudo tudo!! Posso?! Vá lá! pleeeease!!! :)

Essas palavras merecem toda a visibilidade possível!

pegueitrinquei disse...

Desencontrá-mo-nos... tu a comentares e eu a 'roubar-te' :)

Espero que gostes da nova roupagem. Não foi nada de extraordinário. E ainda estou parva com a semelhança absurda entre ambos os relatos... Muito perspicaz da tua parte reparar em tal coisa!