3 de março de 2008


A primeira pergunta que colocamos a nós próprios é a questão que os jurados dos Óscars se puseram a eles próprios quando votaram para a categoria de melhor filme: qual é o melhor filme " Haverá Sangue" ou " Este país não é para velhos" ? A maior parte deles escolheram este último, e pensando bem...agiram bem.

Penso que o filme dos Irmãos Cohen é mais completo, com melhor argumento, por consequência, é melhor do que " Haverá Sangue", não esquecendo que Daniel Day Lewis tinha de ser premiado pela sua interpretação e também que o" Óscar para melhor Fotografia" só poderia ser também para o filme de P.T.Anderson, tem imagens mais do que arrepiantes, portanto, este ano, os Óscars foram bem distribuídos nas principais categorias.

Há uma parte do filme que Tommy Lee Jones, o sheriff filosófico que se mostra abismado, e impotente, com a escalada de violência na sua terra ( e ele não vive em Portugal, aí é que ficaria ainda mais, basta ver o que aconteceu neste fim de semana por todo o país) lê uma noticia no jornal ( atenção, o que vou dizer é spoiler, quem quer ver o filme passe para o parágrafo seguinte) que um casal donos de um lar de 3ª idade foram presos porque matavam os velhotes apenas para ficar com os seus cheques da segurança social e enriquecerem. Depois reflecte para o seu companheiro dizendo " o que chamou a atenção às pessoas foi ver a sair um velhote a correr com uma coleira. Curiosamente, não foi a verem os donos a cavar buracos nas traseiras". O seu companheiro meio bronco ri à gargalhada, e nós não resistimos, também rimos daquela reflexão, mas ao mesmo tempo estamos a rir de nós próprios, do mundo em que vivemos e ao que chegamos.

Se no filme " Haverá Sangue" conta a história do inicio do capitalismo e todo o mal que deriva desse capitalismo, principalmente nas relações entre as pessoas, neste filme leva-nos um pouco mais longe mostrando a animalidade de um " serial-killer" , Javier Bardem consegue construir uma personagem que se poderá tornar das mais temidas história do cinema, o seu olhar medonho, a sua voz poderosa, o seu estilo e a sua frieza são irrepreensíveis. Depois temos aquela tensão e suspense todo que nos é servido de uma forma lenta, que , por vezes, incomoda, nunca nos deixando indiferente ao que se passa no ecrã. Agora resta-me apenas comprar o livro de Cormac McCarthy que deu origem a este filme e esperar que alguém faça um filme tão bom, ou melhor, a um do livros mais fascinantes que li deste mesmo autor, " A Estrada".

2 comentários:

Ema disse...

ainda não vi nenhum deles. os únicos nomeados que vi antes dos óscares foram dos pequenos ou invisíveis vencedores "Michael Clayton" e "Into the wild". Mas estou curiosa com tão grandiosas representações e com tantos óscares.

Maria del Sol disse...

Também não vi nenhum dos dois, mas este ano, não se se foi pela forte presença europeia entre os vencedores, mas fico com a sensação de que vai ser recordado como uma das melhores colheitas cinéfilas desde há muito :)