18 de janeiro de 2014

30 anos sem José Carlos Ary dos Santos

Estrela da Tarde 

Era a tarde mais longa de todas as tardes 
que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, 
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, 
tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste 
na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos 
no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos 
ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste 
o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, 
para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites 
que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas 
e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos 
cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite 
uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite 
nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites 
que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite 
amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, 
vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, 
se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo 
e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste 
dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste 
despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem 
se quer tanto!

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