11 de fevereiro de 2008

5ª feira - entre as 19 e 45 e as 20:15 - algures na Rua do Campo Alegre :

Saio do ginásio. Subo as escadas que dá acesso à rua. Estou descontraído, relaxado ao máximo, posso dizer parecia estar a andar no céu. Tinha estado alguns minutos a tomar um banho turco no ginásio, isolado do mundo, de olhos fechados a suar como um camelo no deserto, sem pensar em nada. Depois ter tomado um duche demorado e de ter tirado, do corpo e da mente, todas as coisas negativas do dia que estava a terminar. Pensei,

" Ainda bem que cá vim. Deu para relaxar e tirar este stress todo. Ficaria pior se não viesse. Estou mais cansado um bocadinho, mas muito menos irritado. As pessoas não poderiam pagar por eu ter tido um dia mau. "

Ajeito o saco, respiro o ar primaveril que, felizmente, parece estar a nascer e para ficar. Tomo uma decisão,

" Ainda é cedo. Vou a pé para casa. "

Respiro fundo, e penso no dia dificil que acabo de ter. Tinha sido, até ao momento, um daqueles dias difíceis que parecem nunca acabar, as minhas forças quase se esgotaram para lutar contra todas as adversidades. Tudo parecia estar contra mim. Precisava de acabar um trabalho, mas o vento parecia não estar a meu favor, ou era o telefone, ou tinha que atender alguém, ou mais uma chamada, ou outra vez alguém na porta, ou era o meu colega de trabalho com mais uma coisa estúpida para perguntar, ou era a folha, o raio da folha que já tinha desaparecido no meio da papelada, ou era isto, ou aquilo, etc,etc, o tempo a passar, e o trabalho ainda por terminar.

" E que dia lindo está lá fora" - pensava eu, no meio daquilo tudo, enquanto a luz entrava pela janela.

Pensei em como tinha estado irritado com todos, com o telefone que não parava de tocar, com as pessoas que entravam e pareciam não quererem sair, com o meu colega que sempre que fala dá um toque no meu braço a querer a minha atenção,

" Se ele soubesse o quanto isso me irrita. Nunca mais me fazia isso "

com as horas que passavam rapidamente, até comigo próprio por não ter sido mais organizado, por entrar em stress desnecessariamente, e até por estar irritado, uma coisa que me...irrita.

" As pessoas não têm culpa. Tu tens que ser um pouquinho mais organizado e planeares melhor o trabalho. " dizia a minha consciência .

Necessitava de uma redoma para me isolar do mundo e acabar o trabalho. Mas respirei fundo, fechei os olhos e disse para comigo

" Concentra-te. Faz as coisas com calma e vamos lá. Siga para bingo".

Dizia eu, andava tranquilamente pela rua, a lua sorria para mim, o ar estava mais quente um bocadinho, todo o mal tinha passado e amanhã era outro dia e já tinha novamente forças para lutar.

Pego na companhia das minhas "viagens das caminhadas", o meu Ipod, carrego no item que diz " Músicas aleatórias", e de repente, sem saber como foi lá parar, quer dizer, eu devo ter posto lá, não devo é ter reparado, começa a tocar esta música



For changing lines
I've got no time tonight
In these times the wind surpassed the tide
when the wake up's hard to find
Dreams make upfor your life
This crazy shine it never lets you die
Going up
We become what you want
Again the moon rises up too high
And we don't need the sky
Wonder what it is that makes the world turn slower
Wonder what it is that makes me feel so mad
Everyone that talks to me I so which wouldn't
I wouldn't evencare except I feel so bad
Why is there no one in my life
Time
There's no time tonight
Wide
There's no room to see wide
Time
There's no time tonight ( Time Tonight " de John Frusciante )

Sorrio, penso no quanto é bom ouvir algumas músicas que parecem serem escritas para nós, ou talvez por nós, sigo em frente com a cabeça levantada. Tinha vencido o dia.

4 comentários:

Maria del Sol disse...

É engraçado como pode haver tanta gente a sentir o que sentimos em sitios diferentes. O mesmo desespero contra a adversidade. A mesma frustração por olhar para fora e pensar nos 1000 sitios onde te apetecia estar em vez do escritório. O mesmo alívio quando finalmente nos é dada licença para respirar um ar que não seja condicionado. E o mesmo encantamento por haver instantes virtualmente perfeitos, em que tudo se conjuga para nos fazer esquecer o resto do dia.

Been there, done that :)

(apesar da minha preguiça crónica, que me faz falhar algumas vezes a ida ao ginásio, mesmo com a mensalidade paga)

Ema disse...

é bom ler momentos desses, especialmente quando o dia foi um bocado desanimador...

(também gosto de pôr o ipod em modo aleatório e esperar pelas surpresas que ele quer reservar para mim...às vezes uma música que já não tinha assim tanto significado adquire outra dimensão)

***

Anónimo disse...

Rua do Campo Alegre faz-me lembrar tourada, e chocas, não fosse eu menina de letras...

O post está brilhante! A música é inspiradora e, claro, força motora para eu própria, muitas vezes sem vontade, sorrir para a vida. ainda bem que fazes o mesmo... ;)

Mojo Pin disse...

Quantas vezes isso acontece, sabe mesmo bem*