27 de novembro de 2009

Cédula pessoal

Faço perguntas às minhas próprias dúvidas e lembro-me
de um filme antigo quando percebo que não respondem:
silêncio a preto e branco.

Procuro o meu caderno de linhas direitas. Em tempos,
andei na escola e tinha a régua mais bonita da terceira
classe. Era um menino de meias e de calções.

Encontro uma esferográfica sem tampa e sei que sou
o último kamikaze antes da derrota. É sempre assim:
um sentimento trágico oriental sentido a ocidente.

O meu coração está localizado a oeste. Quero invectivar
contra a própria rosa dos ventos que me fez nascer:
multinacional sentimento trágico: milhares de filiais.

Quando começo a anotar as minhas preocupações, tão
importantes apenas para mim, já me esqueci de tudo:
os segredos esconderam-se por trás de um muro.

Restam as metáforas, alinhadas por ordem de presumível
intensidade. Escuto-as no meu walkman tonto e desaprendo
outra vez de ser infeliz.

José Luís Peixoto in Gaveta de papéis

25 de novembro de 2009

O mágico

Como Rembrandt pintou belos quadros, como Bob Dylan escreveu canções inesqueciveís, como Neruda definiu o amor na sua poesia , como Chaplin nos descobriu como fazer sorrir, ou como Spielberg nos mostrou que era bonito sonhar.

Deco foi, e continua a ser, um verdadeiro artista, o mágico, o jogador que mais alegrias me deu enquanto vestiu a camisola do FCPorto ( e só não é o melhor que eu vi com aquela camisola vestida porque existiu este ) e hoje será recebido, naquela que será sempre a sua casa, de pé e com aplausos e vénias como só os grandes artistas merecem serem recebidos. E eu vou lá estar.



PS: De todas as camisolas oficiais, e foram muitas, que tive do FCPorto, apenas duas tiveram números nas costas. Tive uma com o nº 8 e uma com o nº 10. Apenas a nº 10 teve um nome do jogador: Deco.

24 de novembro de 2009

" Um grito que ninguém ouvia "

Muitas vezes queixámo-nos que andamos a perder a vida, que o tempo passa entre os nossos dedos sem que o consigamos agarrar, que necessitamos de uma pausa na nossa rotina porque ela nos tolda o presente, não nos liberta para que possamos conhecer tudo aquilo que o Mundo nos oferece.

Muitas vezes desabafamos, triste ou melancolicamente, que gostaríamos de mudar a vida, o nosso passado, de mudar os nossos caminhos à procura de um destino melhor, de sermos o dono do nosso tempo e não ele que nos controla, como se fossemos robôs.


A partir de agora vou pensar muito bem quando digo que ando a perder a vida. Porque, isto sim, é que é perder uma vida. E, pior, sem nada ter contribuído para isso e sem puder fazer nada para mudar. Uma história que ultrapassa qualquer ficção, e cujo desespero nem quero imaginar. Haverá desespero maior do que lutar pela própria vida, silenciosamente ?

24 Novembro





Ou seja, hoje. Próxima missão: procurar nas lojas

22 de novembro de 2009

Do cinismo e da vida

"Talvez seja uma palavra gasta. Como cidadania. Como amor. Ou como a velha e, por isso, vilipendiada democracia. O que gasta as palavras não é o excesso de uso, mas a falta de correspondência. O que é o amor, quando não é acto de dádiva? Sem gestos, trabalho, coragem, as palavras secam. O amor dos portugueses pelas palavras é demasiado platónico. Habituámo-nos à beleza das palavras nos livros, uma beleza de folhas secas, outonal, consolação desconsolada do que podia ser mas nunca foi. Vivemos de sonhos e queixumes, alucinados pelo que nos falta e faltando à realidade que os sonhos nos pedem. Adiamos. Adiamo-nos. Dizemos que matamos o tempo e deixamos que o tempo nos mate. Um dia destes, pensamos, vou dizer tudo o que não disse. Vou fazer tudo o que não fiz. Pensamo-lo com raiva e desespero e vontade e paixão, solitários por entre as gentes. Depois respiramos fundo e adiamos. Por medo ou brandura ou nem isso. Coisas mais pequenas: cagaço, moleza. Ou a grande palavra dos países que não souberam crescer: deslumbramento. O lado de fora do servilismo, que é o avesso concreto do civismo. Precisávamos de criar um dicionário novo, onde as palavras reluzissem com o significado que possuíam antes de as usarmos como trampolins para tronos de miseráveis poderes, porque é miserável todo o poder que se serve a si mesmo em vez de servir a melhoria do mundo. "Inês Pedrosa na crónica " A palavra civismo". Ler o resto da crónica aqui. Vale bem a pena.

20 de novembro de 2009

Versões improváveis ( 8 )

Uma versão maravilhosa para uma das melhores canções de sempre. The Magic Numbers canta " There is a light that never goes out" dos saudosos The Smiths.




PS: A rubrica, a partir de hoje, fica quinzenal para não se esgotar
, nem cansar.

18 de novembro de 2009

Estamos lá



E agora os burros continuam a zurrar baixinho.

O coração que ri

A tua vida é a tua vida
Não a deixes ser dividida em submissão fria.
Está atento
Há outros caminhos,
Há uma luz algures.
Pode não ser muita luz mas
vence a escuridão.
Está atento.
Os deuses oferecer-te-ão hipóteses.
Conhece-las.
Agarra-las.
Não podes vencer a morte mas
podes vencer a morte em vida, às vezes.
E quanto mais o aprendes a fazê-lo,
mais luz haverá.
A tua vida é a tua vida.
Memoriza-o enquanto a tens.
És magnífico.
Os deuses esperam por se deliciarem
em ti.


Charles Bukowski

15 de novembro de 2009

13 de novembro de 2009

Versões improváveis ( 7 )

Esta versão tenho que agradecer à Madrigal, porque foi ela que, simpaticamente, me deu a conhecer. Uma das melhores bandas dos anos 90, os Pixies, numa versão de Megham Smith,presente na banda sonora do filme " 500 days of Summer", " Here comes your man"


12 de novembro de 2009


" As raparigas passam por mim e são bonitas como se as mulheres passassem a ser belas até muito mais tarde. Gosto delas. Olhando melhor o que eu desejo são as mulheres que amei sem as ter amado completamente — amores que foram poemas imperfeitos e inacabados e por isso em poesia se escrevem outros poemas, que possuo por dentro, sílabas, sons, sentidos. Coisa que não posso fazer com as mulheres que amei e me amaram e depois o poema arruinou-se antes de o termos acabado. Figuras que para mim continuam em movimento, mas que movimento têm para elas, as mulheres que amei, as figuras que fomos tão aéreas no chão em que nos deitámos? Ah como os amantes trabalham diferentemente a plasticina do amor, uns com os dedos na ferida, que para o outro já é cicatriz." Casimiro de Brito aqui

11 de novembro de 2009

Do Twitter para aqui


A precisar, urgentemente, de uma coisa nova na minha vida.

10 de novembro de 2009

40 anos de Rua Sésamo

A Rua Sésamo faz 40 anos. Todos aqueles que cresceram nos anos 90 foram influenciados pela vivência desta série, alguns deles ainda foram "baptizados" com os nomes das personagens ( quem foi que se acuse...) e foi a partir daí que os rapazes começaram a sonhar por ter uma Alexandra Lencastre na sua vida. A culpa era do Poupas que ficava entusiasmado com as suas carícias.
A personagem que eu mais me identificava é mesmo o Monstro das Bolachas. Não é dificil adivinhar o porquê. Bolachinhas, vão todas lá em casa. Aqui fica uma canção em homenagem a um dos meus amigos de infância.





Só mais duas coisinhas: é impressão minha ou a canção tem o seu quê de Mão Morta e a personagem tem a voz parecida com o Adolfo Luxúria Canibal ? Outra coisa, recordando o vídeo, também me recorda uma coisa: já à algum tempo que não como uma bolachinha. Ah, desgraçada da dieta.

8 de novembro de 2009

6 de novembro de 2009

Versões improváveis ( 6 )

Quando me faltarem versões, recorre sempre aos Flaming Lips. É só ver no Youtube as inúmeras versões, e algumas delas de temas bem improváveis. Mas nada melhor do que uma versão de uma canção que marcou quem viveu nos anos 80/90: " Bohemiah Rhapsody", dos Queen

5 de novembro de 2009

Hoje tive um sonho, particularmente, agradável. Já nem me lembrava de ter um sonho assim. Aliás, já nem me lembrava de sonhar. Ele tinha tanto de esquisito, pela situação e pessoas envolvidas, como agradável, pela situação e pessoas envolvidas também. Mas quando estava a chegar ao clímax ( do próprio sonho não de outras coisas...) eis que começo a ouvir o telemóvel a despertar.

Aceitei esse fim como tenho aceite o fim de outras coisas na minha vida. No fundo, este sonho representou o que a minha vida tem sido. Momentos agradáveis, mas quando estou quase a passar para o outro lado, quando parece estar no ponto ideal, existe sempre qualquer coisa que me vai barrando e que me vai fazendo perder esperanças até desaparecer, como se fosse o vento que vai levando as folhas das árvores para parte incerta. Resta saber quando irei ultrapassar isso. Talvez ainda não tenha aparecido o momento ideal.

E agora o ideal era dizer, " vou dormir e sonhar novamente". Mas não, tenho de ir trabalhar.

3 de novembro de 2009

Da escrita como salvação

"Era irónico que eu não pudesse escrever sobre o meu próprio suicídio. Não poderia sentar-me e descrever a sensação exacta do frio que o cano da pistola produzia quando pressionado contra a têmpora, durante o último segundo fugidio, antes de a bala entrar no cérebro e sair pelo outro lado, desfazendo para sempre o ritmo alucinante do pensamento humano, nem a queda lenta do corpo da cadeira provocando o baque e o derramento de sangue.
Foi nisto que pensei quando apontei a arma à cabeça." - João Tordo in " O livro dos homens sem luz. "

1 de novembro de 2009

António Sérgio ( 1950-2009 )

Habituei-me a ouvir a sua voz antes de me deitar. Primeiro na Rádio Comercial, depois, através da net, na Rádio Radar. Apontava as bandas novas que ele, como se fosse um amigo, me "aconselhava". Deu-me a conhecer muita música que marcou a minha vida. A partir de hoje, sem a sua voz inconfundível, as minhas noites serão ainda mais vazias.