Um dia destes tive um sonho estranho. Mas, como digo aqui, aquela estranheza tinha algo de bom, de mágico, um afagar do coração, um sorriso nos lábios e uma feliz recordação que me ficou, por toda aquela situação com que me deparei.
Comparo esse sonho ao concerto que Ryan Adams deu, na passada 6ª feira, no Teatro Sá da Bandeira. Escaldado por alguns conselhos, que me tinham dado à porta, relativamente ao seu feitio, as minhas expectativas foram baixando na esperança de ver um concerto inesquecível. Na verdade, quando, como em quase tudo na vida, entramos nas situações de coração vazio não esperando nada, ou simplesmente indo na maré, saímos, quase sempre, com o coração cheio e feliz.
Ryan Adams tal como o meu sonho, deu um concerto estranho, o norte-americano que se distrai com tudo e mais alguma coisa, por isso não se pode tirar fotografias senão ele aplica-nos os seus truques satânicos, e cujo feitio no backstage deu que falar, foi, em cima do palco, um verdadeiro mestre de cerimónias afável, com um sentido de humor brilhante, uma enorme capacidade de improvisação e, o essencial, um brilhante intérprete da suas, não menos brilhantes, canções.
Na verdade, apesar de alguma “estranheza”, o seu jeito trapalhão a remexer nas pautas, a sua harmónica que desafinava e que ele apetecia destruir, a sua “pega” com o técnico da luz, a catota que teimava em não sair e que depois teve direito a uma canção ( momento hilariante parte I ), ao alinhamento desigual, ao público espanhol e parvo que se levantava para ir ao WC no meio das canções, à falta da “Come pick me up”, às cãibras que lhe estava a dar num certo e determinado local no corpo ( momento hilariante parte II ), à guitarra que ele fartava-se de afinar ( "é um tema que estou a trabalhar para o próximo disco" justificou, divertido) ao encore com apenas uma canção e duas interpretações de dois temas improvisados, e criados, na altura com os títulos, sugeridos pelo público, de “Jesus” ( momento hilariante parte III), e “Cougar” ( momento hilariante parte IV), Ryan Adams demonstrou o porquê de ser um dos nomes mais importantes da “alt-country” norte-americana com interpretações deliciosas, algumas delas inesquecíveis ( “Sylvia Plath” continua a ser uma canção de sonho, “ a refrescante versão de “New York, New York” , “Firecraker” brilhante, “Two” continua a ser das canções mais bonitas de sempre, a“Please, do no let me to go” que se tornou especial para mim ( obrigado pela prenda, Carlinha), etc.
Tal como o meu sonho, o concerto foi estranho, mas também, tal como ele, acabou por ser uma daquelas recordações que quando as evocamos só poderemos estar de sorriso largo e felizes por tê-las vivido.
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