7 de março de 2012

Da tirania do telemóvel em lugares impróprios*

"...O telefone tocou estava ele sentado na sanita, no momento de expelir um cagalhão. Era um pouco mais tarde do que na noite anterior, talvez dez ou vinte minutos antes da uma da manhã.(...)
Atender rapidamente o telefone significava levantar-se de imediato sem poder limpar-se e enojava-o ter de atravessar o apartamento naquele estado. Por outro lado, se terminasse o que estava a fazer no seu ritmo normal,não chegaria a tempo para atender. Mesmo assim, sentia relutância em mexer-se. O telefone não era o seu objecto preferido e mais do que uma vez pensara já em livrar-se dele. O que mais lhe desagrava era a sua tirania.Não só tinha o poder de o interromper contra sua vontade,como cedia inevitavelmente às suas ordens. Desta vez conseguiu resistir. Ao terceiro toque tinha esvaziado os intestinos. Ao quarto toque conseguira limpar-seAo quinto toque puxou as calças para cima, saiu da casa de banho e atravessou calmamente o apartamento. Atendeu o telefone ao sexto toque, mas ninguém respondeu. Tinham desligado". in "A Triologia de Nova Iorque de Paul Auster

* Ou como desistir de Paul Auster logo na página 16.

2 comentários:

Madrigal disse...

e com isto acabei arrenpender de ter comprado dois livros dele numa promoção: Leve 2 e Pague 1 :)

Menphis disse...

Eu já li 3 livros de Paul Auster e confesso que nenhum dos 3 me agradou sobremaneira para o aconselhar. Mas também acho que deverias tentar lê-lo, para ver se gostas ou não. Neste livro é que o