14 de abril de 2008

Domingo. Fim da tarde.

Aperto o casaco até cima e, de seguida, aperto o cordão dos calções. Sorrio e abano a cabeça como se desse o tiro de partida.

" - Vamos " - digo.

O passo começa a ficar cada vez mais apressado. Deixamos para trás mais um fim de semana, tranquilo, mas vazio. Começo a ficar farto da vacuidade destes Domingos solarengos. Esta vacuidade que parece já ter entranhada em mim. Prometo que algo terá que mudar.

Descemos a rampa.

Começamos juntos a partilhar a nossa vida, os nossos segredos,

( será que temos segredos ? )

os meus anseios, os meus projectos imediatos,

( estou a aprender que a vida tem que ser vivida apenas um dia após o outro. )

as minhas ambições, os meus avanços e recuos. Principalmente, os meus recuos. A minha vida está a tornar-se num quantidade imensa de recuos. Explico os meus recuos, ela compreende-os.

(Sempre os compreendeu. Sempre me compreendeu.)

Confesso que sim, que estou quase a desistir, a virar de rota na bússola que comanda a minha felicidade. Confesso que é o passo mais realista que posso dar.Viver de ilusões, nunca alimentou ninguém.

Homens jogam ás cartas protegidos por muros velhos, sentados em bancos de cozinha. Outros observam o jogo enquanto esperam pela sua vez. O barco está pronto para partir para a outra margem.

As águas do Douro estão tranquilas, como se fossem o reflexo da nosso estado de espírito e, de repente, passa por nós um outro barco, de turistas.

Paro. Ela pára comigo e sorri. Compreende o que quero.

( sempre me compreendeu )


Continuamos a caminhar com passo apressado. Passam por nós turistas, um casal de namorados, amigos a falarem alto a passearem de bicicleta, uma família com crianças a espreitarem com cuidado para baixo, pescadores solitários contemplam a tranquilidade daquelas águas atentos à sua cana de pesca.

Paramos, respiramos fundo, damos a volta, prontos para regressar ao nosso ponto de partida.

Enquanto o silêncio toma conta de nós, observo as vários cores do céu, o castanho no fundo do horizonte a pronunciar que o sol está prestes a rumar para outro lado. As nuvens carregadas a anunciar a escuridão da noite.

Passamos as mesmas pessoas, ouvimos os mesmos sorrisos altos, as conversas apressadas, o barco já partiu e já quase chega à próxima margem, os jogadores de cartas já foram substituídos.

Chegamos a casa. Faço a barba de 3 dias e tomo um banho retemperador. Estes passeios, disfarçados de exercício físico aos fins de tarde de Domingo são como uma viagem espiritual.

Com a melhor companhia de todas, a mãe, são como um luz no meio de nuvens carregadas de melancolia.

6 comentários:

Anónimo disse...

domingos em casa ...pois ....ja me deixei disso...AR LIVRE !!!a umas semanas atras..calças arregaçadas...bola...mar...uiiii ja nao me lembrava....que bem que soube....sorrisos..molhas da onda que nem demos fe q tinha chegado...lol

Maria del Sol disse...

Gosto destes domingos reparadores. E ainda gosto mais do carinho que paira nas entrelinhas do teu post. É comovente. :)

Desnorteada disse...

As mães têm esse poder... o de nos compreender como ninguém! ;) Gostei muito deste post...

pegueitrinquei disse...

não imaginas o quanto te invejo... muito mesmo ;(

Menphis disse...

..e ninguém fala das fotografias :(..é que foram tiradas pelo telemóvel :)

Anónimo disse...

ganda telemovel quando for grande quero um assim lol