Por alturas do Apartheid, quatro foto-jornalistas (Kevin Carter, Greg Marinovich, Ken Oosterbroek e o português João Silva) foram, através das suas máquinas fotográficas, os olhos do Mundo mostrando o que se estava a passar numa África de Sul envolvida numa guerra civil entre etnias, onde a violência indiscriminada nas ruas estava fora de controlo e a tomar proporções preocupantes. É sobre este período sangrento que este filme trata, baseado no livro original escrito por João Silva ( o português que ainda à pouco tempo perdeu as duas pernas em Afeganistão ) e Greg Marinovich, únicos foto-jornalistas sobreviventes.
Impedidos pelo jornal onde trabalhavam de divulgar fotos violentas, os quatro foto-jornalistas tornaram-se free-lancers e criaram uma espécie de clube, que baptizaram de"The Bang Bang Club", onde tinham por objectivo mostrar tudo aquilo que se passava com a brutalidade e a dureza necessária que só a realidade transmite, sem qualquer censura, para que o Mundo acordasse para o que se estava a passar.
Apesar de ser muito suspeito, afinal foto-jornalista é das profissões que mais tenho em apreço, por isso pelo tema em si já estava conquistado à partida, gostei bastante do filme, com boas interpretações, sendo ao mesmo tempo uma pequena, singela e justa homenagem a todos os corajosos foto-jornalistas, mas principalmente aos quatro elementos deste clube.
Como acaba por ser normal, a vida de Kevin Carter é aquela que mais se destaca e a qual o realizador dá mais ênfase obrigando o espectador a questionar sobre a realidade e os limites da Arte. Depois de ter tirado esta fotografia, e de ter vencido o Pulitzer, todo o Mundo questionava-o se ele teria feito alguma coisa pela criança ( que mais tarde viria-se a saber que não estava morta no momento, mas sim a descansar, e que apenas faleceu alguns anos depois). Carter não aguentou essa pressão e após o falecimento, apanhado num meio de um tiroteio, do seu companheiro Ken Oosterbroek, decidiu pôr termo à sua vida. O valor deste filme é que o realizador preocupa-se em apenas mostrar a história, sem condenar ou aligeirar a imagem de Carter. O realizador não julga, nem questiona, apenas mostra a realidade. Uma realidade bem dura e dramática e uma história de vida impressionante.
Por fim, nem o filme parece que vai estrear em Portugal, nem sequer o livro tem uma edição portuguesa ( apenas existe uma edição brasileira ), apesar de termos João Silva um fotógrafo nascido em Portugal. Estranheza para um país que tanto gosta de julgar os outros quando não se apoia qualquer produto/marca/pessoa/etc onde o nome de Portugal esteja envolvido.