31 de março de 2008


Primeiro de tudo, um aviso a quem quiser ver " I'm not there", um falso biopic sobre a vida desse grande génio ( o maior ? ) musical do século XX, Robert Allen Zimmerman, mais conhecido como Bob Dylan : necessitam de conhecer um pouco da sua vida e o seu trajecto musical para compreenderem este filme.

Nem é necessário muito, basta estarem atentos à excelente reportagem que saiu no Ípsilon, ou então dar uma passagem de olhos ao Wikipédia, ou, por fim, poderão aproveitar para ler o seu livro" Crónicas Volume 1", livro esse que irei, sem demoras, reler, onde existem explicações, na primeira pessoa, para algumas coisas da sua vida, ou melhor, das suas mais variadas vidas .

Só assim é que irão apreciá-lo convenientemente, senão nunca o irão perceber, acreditem que poderá ser uma confusão pegada e terão vontade de fazer o que uma mamã e a sua filhinha que estavam ao meu lado no cinema fizeram, ou seja, foram embora ao fim de 20 minutos de filme.

Só assim é que perceberão algumas coisas que se vão desenrolando ao longo do filme, desde a sua visita ao hospital para ver o verdadeiro Woody Guthrie, até perceber quem é aquela senhora respeitável, e que fala dele com um brilhozinho nos olhos, com quem ele partilhou os palcos cantando canções de protesto, passando pela sua mudança quando aconteceu o famigerado acidente de moto que quase lhe tirou a vida, ou até porque lhe gritaram " Judas" em pleno concerto.

No inicio dizem-nos que a " história é baseada nas várias vidas de Bob Dylan", e são essas " várias vidas" que são retractadas por várias personagens, com destaque para a fabulosa interpretação de Cate Blanchet, copiando todos os maneirismos de Dylan duma forma arrepiante que quase vemos o verdadeiro Dylan, e de Heath Ledger, mostrando que a sua morte estúpida, como são todas as mortes, nos retirou um excelente actor.

Depois ainda temos, uma das personagens que mais apreciei pelas suas tiradas e citações, Ben Whishaw, que responde pelo nome de Arthur Rimbaud, interpretando a fase mais poética de Dylan, mas também Christian Bale que reparte a vida de Dylan por duas fases, a fase " contador de histórias a querer salvar o mundo e depois o Dylan cristão-novo " e Richard Gere, talvez a personagem mais estranha e mais " perdida" do filme, isto sem esquecer do, já citado, Marcus Carl Franklin, um miúdo que cria várias histórias da sua vida.

O filme, apesar de ás vezes nos parecer ser demasiado parado e aborrecido, principalmente na parte do Richard Gere que não se compreende bem o que ele está ali a fazer, é muito bom, até nas perspectiva de ser um biopic totalmente diferente de todos os outros, não é um biopic convencional como muitos outros, parecendo, por vezes, até um documentário, pontificado com excelentes versões de músicas de Dylan. Mas, quanto à música, falarei mais tarde. Imperdível para todos os fãs de Dylan ou para aqueles que têm curiosidade relativamente à sua vida.

29 de março de 2008

A voz mais funda

Poucas vezes encontrei a felicidade senão
em instantes demasiado breves em que ignoro
que encontrei a felicidade : um caderno sobre
a mesa, um livro que amei, o ruído do mar.

Mais nisso sou feliz do que no amor. Mais nisso
encontro os meus dias que nos meus dias,
honrando o dever e a família e Deus ou mesmo
o futuro e as estações do ano ou o teu nome.

Criar filhos, esquecer a voz mais funda,
a aventura, devolver ao céu os sinais da vida inteira,
aves, navios, um jardim, uma voz antiga.
( Francisco José Viegas )

28 de março de 2008

Não me perguntem o porquê, nem como surgiu, esta vontade. Mas, ultimamente, ando com uma imensa vontade de voltar a ouvir este álbum.

Talvez para recordar bons momentos da adolescência passados ao som dele e voltar àqueles maravilhosos tempos em que a vida era apenas " 1,2,3 e toca a desbundar". Ando a precisar de desbundar um bocadinho, por isso....1,2,3

26 de março de 2008

" O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal?» ( As velas ardem até ao fim)


É de amizade, como sentimento em si, entre duas pessoas que se fala neste maravilhoso livro de um autor que fiquei com uma extrema curiosidade em conhecer mais obras dele.

Apesar das suas descrições longas, mas nada entediantes, é um livro verdadeiramente intenso e grandioso, tornando-se daqueles livros que quando terminamos, damos por nós pensar no que seria bom se ele continuasse por mais um bocadinho.

É um monólogo disfarçado de um diálogo de dois grandes amigos, onde os seus caminhos se separaram, e é na busca incessante da verdade, dessa mesma separação, que um deles fala, dando verdadeiras lições de vida, e de amizade, ao seu grande companheiro de infância. A ler e sublinhar as imensas frases bonitas que povoam ao longo do livro.
Sabes...As palavras eu compreendo-as bem. Reconheci-me nelas.Talvez reconheça melhor do que os teus gestos sempre vagos.

( Será que era eu que lá estava ? Ou era outro que estava escondido no meio dos teus desejos . Não sei bem, mas penso que me reconheci, que me vi lá perdido no meio de uma palavra ou de outra, talvez eu esteja lá, bem lá no meio, como um ponto de interrogação na tua vida. )

O problema é aquele movimento do corpo, aquele impulso que precisa sempre de um empurrão, aquela indecisão, aquele medo, sempre o medo, aquelas palavras que me faltam sempre, aqueles gestos que se descoordenam e nunca se completam, aquele sorriso que nunca se abre.

O problema é aquilo a que chamamos de " primeiro passo". O meu e o teu.

24 de março de 2008

Qualquer dia,

( a minha vida é feita de " quaisquer dias ", qualquer dia faço isto, qualquer dito faço aquilo, qualquer deixo de fazer isto, qualquer dia ganharei a coragem que me falta, qualquer dia vou tentar ser feliz, qualquer dia digo isto, a minha vida é uma emaranhado imenso de " qualquer dia ". Imagino-me até, qualquer dia, quando estiver deitado na cama, à espera da Sra. Dona Morte e enquanto todos os olhares estão fixados em mim, à espera que o meu corpo sucumba direi " Qualquer dia voltarei aqui para tentar viver " e só depois aí é que darei o último suspiro. Mas hoje não quero falar disso, qualquer dia volto a falar dela. Estava a dizer que a minha vida é feita de " quaisquer dias", sempre no plural, o singular a mim já não me basta, e eu, de forma cobarde admito, adio sempre essa decisão mas qualquer dia, lá estou eu outra vez, mudarei essa minha forma de ser. Adiante...)

Qualquer dia, vou a uma praia

( pensem numa praia bonita, daquelas onde os amantes apaixonados juram promessas de amor eterno enquanto trocam carinhos entre si, escondidos de todos os olhares inconvenientes. Ou, se preferirem, pensem numa praia onde os solitários andam em passos vagarosos, de cabeça baixa, segurando as lágrimas da solidão, imaginando momentos felizes, e invejando os outros casais felizes que se divertem na areia branca. Quanto à altura do dia, bem, escolham uma qualquer altura, penso que não existe uma hora ideal para ser feliz, em qualquer altura do dia podemos ser felizes. Escolham aquela altura do dia em que estamos sempre na dúvida entre o fazer nada e o fazer coisa nenhuma, a tentar preencher o vazio que há em nós. )

Qualquer dia, vou a uma praia e lançarei uma corda ao mar

( comecemos pelo fim, tem de ser maré vaza. Não podemos molhar os sapatos novos, ainda com boas solas, comprados a preço de saldo, por isso a maré tem de estar vaza e em vez daquelas ondas gigantes, deve estar umas ondas pequenas, daquelas que terminam a nossos pés e a sua espuma morre nas nossos dedos. A corda nada tem de segredos, tem de ser, grande, forte e inquebrável como uma relação de amor, e precisa de ter um nó, tal e qual o nó que tenho na garganta porque não tive coragem de lhe dizer uma coisa, ou porque deveria ter-lhe dito outra coisa, deveria ter completado aquela frase que ficou no ar e aquele gesto para dar o " grand finale" e depois esticar os braços e esperar que algo repousasse em cima deles, não sei bem o quê, aquelas mãos brancas como nunca tinha visto, ou os seus lábios finos e vermelhos que me apetece apoderar-me deles e dizer que são só meus, ou talvez a sua cabeça repousar qual Bela Adormecida. Dizia atrás que a corda tem de ser grande, com um nó forte e largo porque temos de estar preparados para corpos de todos os tamanhos, que isto não está para esquisitices, e estejam sossegados não me quero matar, a corda não é para algo de mal, pronto, espero que tenha sido claro na minha descrição, agora mais vale completar a frase que se faz tarde. )


Qualquer dia, vou a uma praia e lançarei uma corda ao mar para resgatar uma sereia.


( agora que penso melhor, será que valeria a pena ? Será que valerá a pena ? Pronto, lá estou nas minhas indecisões que, ás vezes, muitas vezes, talvez vezes demais, me assolam na calada da noite e se transformam em pesadelos que inquietam o meu corpo. E depois como seria alimentá-la, será que ela só seria vegetariana, será que teria de ir comprar um aquário daqueles gigantes para ela, ou teria que a colocar na banheira ?
E depois as sereias não têm pernas, têm escamas e eu nunca foi muito apreciador de peixe, digo sempre " nunca vi peixe a puxar carroça", prefiro sempre carne no meu prato, se calhar nem era boa ideia, uma mulher com aspecto de sereia mas com umas pernas bem torneadas sempre é melhor do que uma sereia com aspecto de mulher mas com escamas.

Talvez apenas passe pela praia tentar avistar alguma sereia solitária, sentada numa rocha, de olhar vazio no mar, esperando que alguém lhe sente ao seu lado para o empurrar para a água e juntos ir descobrir o mundo que existe debaixo de água. No entanto, não me posso esquecer de arranjar uma corda. )

Sometimes I wonder
Just for a while
Will you ever remember me?
Ever remember me?








21 de março de 2008




Só falta mesmo vir o Tom Waits, o Bowie e a PJ Harvey. É que o Dylan vem numa altura fabulosa para mim, vem na altura das minhas, prováveis, férias. E este ano, ou muito me engano, ou troco a praia por isto.
I wish I knew how it would feel to be free ( Nina Simone )

I wish I knew how
It would feel to be free
I wish I could break
All the chains holding me
I wish I could say
All the things that I should say
Say 'em loud say 'em clear
For the whole round world to hear
I wish I could share
All the love that's in my heart
Remove all the bars
That keep us apart
I wish you could know
What it means to be me
Then you'd see and agree
That every man should be free

I wish I could give
All I'm longin' to give
I wish I could live
Like I'm longin' to live
I wish I could do
All the things that I can do
And though I'm’m way over due
I'd’d be starting a new

Well I wish I could be
Like a bird in the sky
How sweet it would be
If I found I could fly
Oh I'd’d soar to the sun
And look down at the sea
Than I'd sing cos I know - yea
Then I'd sing cos I know - yea
Then I'd sing cos I know
I'd’d know how it feels
Oh I’d know how it feels to be free
Yea Yea! Oh, I’d know how it feels
Yes I’d know
Oh, I’d know
How it feels
How it feels
To be free


19 de março de 2008

Próxima leitura:

"Quero uma vida em forma de espinha
Num prato azul
Quero uma vida em forma de coisa
No fundo dum sítio sozinho

Quero uma vida em forma de areia nas minhas mãos
Em forma de pão verde ou de cântara
Em forma de sapata mole
Em forma de tanglomanglo
De limpa chaminés ou de lilás
De terra cheia de calhaus
De cabeleireiro selvagem ou de édredon louco


Quero uma vida em forma de ti
E tenho-a mas ainda não é bastante
Eu nunca estou contente"

" Cantilenas em geleia " de Boris Vian


18 de março de 2008

Coisas para adoçar um ego que tem andado azedo...

Retirar a roupa de Primavera/Verão e verificar que o melhor é mandar apertar 4 camisas, 3 calças, arrumar de vez algumas camisas e camisolas e pensar em comprar mais coisas porque as do ano passado estão todas muito largas. Yyyaaabbbaaaddaabbaaaduuuu.

...


Pronto, já está melhor.

17 de março de 2008


As frases anteriores aparecem no livro que aproveitei para o terminar de ler neste fim de semana pachorrento.
Gosto da escrita de José Eduardo Agualusa. Gosto da sua simplicidade, das suas histórias, das suas crónicas que me levam a comprar o Público aos domingos, dos seus contos de viagens, enfim, gosto de o ler.
Dizem-me que é literatura light, mas como não tenho o hábito de pesar os livros que leio, nem de os catalogar como se fossem meros produtos de hipermercado, prefiro dizer que a escrita de Agualusa é de uma beleza simples que me transporta para uma África que me dá uma imensa curiosidade de conhecer.
"As mulheres do meu pai", transporta-nos para Angola, para África do Sul, para Lisboa, para a vida, para os sonhos realizados, ou até para os sonhos impossíveis de realizar, é um conjunto de histórias mas que ao fim e ao cabo apenas é uma só, uma só vida fantástica contada por muita gente como se fosse um filme e a sua banda sonora fosse música jazz. Aconselhável.
" Ninguém se apaixona por um conhecido "
" Os sonhos cheiram melhor do que a realidade. "
"De quantas verdades se faz uma mentira ? "

13 de março de 2008

Este Verão promete muitos, e bons, concertos neste nosso Portugal. Quase todos os dias somos confrontados com noticias sobre espectáculos de grandes artistas que irão actuar neste cantinho à beira mar plantado.

A dificuldade de escolha é muita, os nomes são tantos, e de qualidade, que dá vontade de roubar um banco, e já agora ter direito a mais férias, para os ir ver a todos.

Mas parece que na Irlanda já encontraram uma boa solução para este meu problema.

Hoje na Aula Magna.



e eu com pena de não puder lá estar mas esperançado que um dia ele volte a tocar por estes lados.

11 de março de 2008

Neste fim-de-semana vazio algo me completou...

Algo veio até mim, em pequenos passos preguiçosos e despertou-me a atenção, chamando-me como uma criança chama alguém para que lhe dêem carinho.

Abri-lhe a porta, deixei-a entrar sem preconceitos, e fiquei encantado com ela, não deixando que ela me abandonasse, sendo a minha companhia para todo o lado onde fosse.

Falo deste maravilhoso álbum


Além de ter uma capa maravilhosa(*), tem músicas FABULOSAS, com uma beleza de cortar a respiração que nunca queremos deixar de ouvir, com a voz a fazer recordar muitas vezes o saudoso Jeff Buckley, outras vezes tem uma atmosfera dos Sigur Ros, outras mais jazzísticas, tipo Antony, mas sempre vai dar a um pop irrepreensível, que pena saber que ele na 5ª feira estará pela Aula Magna e não poderei ir lá sentir ao vivo músicas tão belas, tão intensas, tão inspiradoras como aquelas que ele nos dá a ouvir neste álbum maravilhoso. Depois tem um site belíssimo e um dos videoclips mais originais que já vi. Não sei como andei tanto tempo sem prestar a atenção a este álbum. Mas, no fundo, as coisas mais belas da vida vem sempre ao nosso encontro, mesmo que às vezes nada façamos para as encontrar. Poderia inserir aqui todo o álbum, mas optei por esta, com um inicio à lá Tom Waits mas depois termina a recordarmos-nos de Jeff Buckley





(*) - e agora, um gosto parvo meu !!!! Gosto daquelas garrafinhas que tem um barco lá dentro. Eu sei que é um gosto assim para o parvo, sei que é material digno daquelas lojas de produtos onde os seus donos são orientais, mas que hei-de fazer, gosto daquilo. Mesmo. A sério.Talvez por ser natural de uma cidade piscatória, ou porque ás vezes gosto de coisas assim viradas para o parvo. Se calhar, é mesmo isso...

7 de março de 2008

"De la musique avant toute chose " ( V )




Imagem de Matthew McKinnon retirada da sua exposição " A gallery of love songs" retirada daqui

Música " Dance me to the end of love" de Leonard Cohen

6 de março de 2008

Caímos de pé e com a sensação que não merecíamos ser eliminados.
Como eu digo aqui, fomos atropelados por um autocarro que nos desfez o sonho de ir à final.
Para o ano estamos lá novamente para tentar chegar mais longe.
Mas como não vivemos de vitórias morais, agora é tempo de esquecer este dia e dar inicio aos festejos do TRICAMPEONATO que já estamos em contagem decrescente. E isto sem esquecer a Taça de Portugal.
Mas fiquei com uma certeza, depois do que eu sofri, a causa da minha morte não será o futebol.

5 de março de 2008

É hoje


Gosto destes grandes jogos marcados a esta hora. Gosto de ver chegar as 18 horas, respirar fundo, desligar os computadores, e começar a minha caminhada rumo ao palco de todas as emoções.

Gosto de fazer aquele caminho a pé, passar pelo Palácio de Cristal, que tanto me inspira, até à Estação de Metro da Casa da Música, de ver os miúdos a saírem da escola com um sorriso nos lábios enquanto os pais/avós/primos/irmãos, que os vão lá buscar, pegam nas suas mochilas pesadas carregadas de sonhos e esperanças de um futuro recheado de sucessos.

Sentir o dia a anoitecer, enquanto vejo aquele senhor junto dos semáforos a vender castanhas assadas e eu, de propósito, passo no meio do fumo para sentir aquele cheirinho.

Gosto de chegar à Estação e, enquanto espero, observar os rostos das pessoas, algumas cansadas na ânsia de chegar o Metro para lhes levar a casa depois de um dia estafante de trabalho, outras, não menos cansadas mas sorridentes e cheias de esperança, à espera que lhes leve até ao Estádio, outras, não tão cansadas, querem apenas que chegue o Metro para lhes levar ao destino pretendido.

Gosto de entrar no Metro e ir para um cantinho, juntinho à porta, à espera que ele me leve ao destino, tentando-me distrair enquanto disfarço os nervos e a ansiedade de lá chegar.

Depois de lá chegar, gosto de entrar na bancada e espreitar para o meu lugar para ver se já lá está o meu pai à minha espera para juntos vibrarmos por uma vitória que acreditamos fervorosamente. Enfim, gosto destes dias de nervosismo míudinho, de unhas roídas, de rádio no ouvido, de vozes roucas e coração acelerado.

E gosto de erguer bem alto o cachecol, dar um grito de " Pooooorttto" enquanto em todo o estádio se ouve isto. É arrepiante.


E gosto, acima de tudo, de ganhar a estes camones de fala esquisita, estes Schmitzs e Heinzs duma figa que já andam por aqui a emborcar cervejinha da nossa que é bem melhor do que a deles.

EU ACREDITO. FORÇA RAPAZES.

3 de março de 2008


A primeira pergunta que colocamos a nós próprios é a questão que os jurados dos Óscars se puseram a eles próprios quando votaram para a categoria de melhor filme: qual é o melhor filme " Haverá Sangue" ou " Este país não é para velhos" ? A maior parte deles escolheram este último, e pensando bem...agiram bem.

Penso que o filme dos Irmãos Cohen é mais completo, com melhor argumento, por consequência, é melhor do que " Haverá Sangue", não esquecendo que Daniel Day Lewis tinha de ser premiado pela sua interpretação e também que o" Óscar para melhor Fotografia" só poderia ser também para o filme de P.T.Anderson, tem imagens mais do que arrepiantes, portanto, este ano, os Óscars foram bem distribuídos nas principais categorias.

Há uma parte do filme que Tommy Lee Jones, o sheriff filosófico que se mostra abismado, e impotente, com a escalada de violência na sua terra ( e ele não vive em Portugal, aí é que ficaria ainda mais, basta ver o que aconteceu neste fim de semana por todo o país) lê uma noticia no jornal ( atenção, o que vou dizer é spoiler, quem quer ver o filme passe para o parágrafo seguinte) que um casal donos de um lar de 3ª idade foram presos porque matavam os velhotes apenas para ficar com os seus cheques da segurança social e enriquecerem. Depois reflecte para o seu companheiro dizendo " o que chamou a atenção às pessoas foi ver a sair um velhote a correr com uma coleira. Curiosamente, não foi a verem os donos a cavar buracos nas traseiras". O seu companheiro meio bronco ri à gargalhada, e nós não resistimos, também rimos daquela reflexão, mas ao mesmo tempo estamos a rir de nós próprios, do mundo em que vivemos e ao que chegamos.

Se no filme " Haverá Sangue" conta a história do inicio do capitalismo e todo o mal que deriva desse capitalismo, principalmente nas relações entre as pessoas, neste filme leva-nos um pouco mais longe mostrando a animalidade de um " serial-killer" , Javier Bardem consegue construir uma personagem que se poderá tornar das mais temidas história do cinema, o seu olhar medonho, a sua voz poderosa, o seu estilo e a sua frieza são irrepreensíveis. Depois temos aquela tensão e suspense todo que nos é servido de uma forma lenta, que , por vezes, incomoda, nunca nos deixando indiferente ao que se passa no ecrã. Agora resta-me apenas comprar o livro de Cormac McCarthy que deu origem a este filme e esperar que alguém faça um filme tão bom, ou melhor, a um do livros mais fascinantes que li deste mesmo autor, " A Estrada".