" O amor não se define. Sente-se." ( Senéca )
18:10 : Hora de saída. Entramos no elevador deixando para trás mais uma semana de trabalho, levo o saco de desporto ao ombro enquanto ele tira o maço de tabaco. Saímos do elevador e sinto logo o ar frio da noite que já se pôs à já algumas horas. Aperto o casaco até cima, ajeito, mais uma vez, o saco enquanto ele tira o cigarro, levando-o aos lábios e acendendo-o de seguida.
Olho-o de lado, sinto que me quer dizer algo, diferente do que falamos, que hoje não quer falar do trabalho que fizemos ou do trabalho que ficou por fazer, ou então da sua agenda para a semana seguinte.
Um carro sai do parque de estacionamento subterrâneo obrigando-nos a que o contorne cuidadosamente.
Dá uma passa no cigarro, enquanto eu me apresso a pôr as mãos nos bolsos para as aquecer, e então ele fala:
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Sabes...eu hoje, faço um ano de casado ! - disse-me timidamente e a sorrir.
Sorrio disfarçadamente, como se não soubesse. Lembro-me então do seu passado, do inicio da sua relação, das suas dúvidas, ou melhor das suas certezas ele nunca teve dúvidas, dos seus desabafos, do que esperava, do que planeava, da nossa longa conversa no trajecto Porto-Lisboa que uma vez fizemos e da sua confissão que ele falhara no amor, aconselhando-me para a vida, como um pai aconselha um filho.
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Ai é ? Parabéns !Então hoje temos festa ! - respondo-lhe todo sorridente.
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Mandei-lhe um ramo de flores. Falei com a nossa amiga Fátima e encomendei-lhe um ramo de rosas. Ela escreveu no cartão uma dedicatória que ditei.
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Ah ! Foi por isso que ela me telefonou a perguntar onde a sua mulher trabalhava. Não sabia se era no Notário ou se era no Registo Civil. Ela falou-me das flores mas...-
Ela adorou ! Acho que toda a gente de lá ficaram encantados com o ramo. Até a chefe que é mais macambúzia. Falou comigo ao telefone e estava emocionada - interrompeu-me ele.
Foi então que eu olhei para ele e digo-vos uma coisa:
NUNCA vi uns olhos a brilharem daquela maneira. Por muitas palavras bonitas que escreverei para os definir, nunca conseguirei descrever de forma perfeita aquele olhar, aquela pureza de sentimentos, aqueles olhos grandes a brilharem de uma forma absolutamente fantástica.
Durante o resto do caminho, os olhos dele sempre brilharam quando falava dela, a sua voz esteve sempre embargada e o seu sorriso era contagiante.
Naquele trajecto entre o meu trabalho e o lugar de estacionamento do carro dele, parecíamos dois adolescentes, ele a falar da sua amada e eu sorridente e orgulhoso pela alegria de um grande amigo, que, por acaso, é meu chefe.